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quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Uma virada vazia

Dia 31 de dezembro. Sentada, lendo um livro em voz alta para as paredes, porque não havia ninguém na casa além de mim, notei que os quadros, um com uma linda Hortência azul em um vaso de porcelana, outros com fotos que sorriem, pareciam ouvir. Nas fotos onde estou, o sorriso feliz e fácil. Sim, porque sempre fui feliz no passado. As fotos não mentem.
Na casa em silêncio minha voz ressoa solitária, como o tic tac do relógio na estante, e do meu coração na batida do fluxo e refluxo incansável para a conservação da vida. A minha vida.
Mas, estou só. Meus livros, os quadros, as paredes.
Houve outros anos novos onde havia muita gente. Família e amigos. Hoje só estou eu e o relógio com alguma atividade nesta sala. Ninguém mais. Senti a necessidade de ter alguém a meu lado.
Fui até o quarto e peguei um álbum de fotos. Era o álbum onde guardei as fotos de minha mãe quando ela faleceu. Fotos de momentos felizes passados em família. Fotos dela sentada no jardim. Outras com os filhos, amigos, meu pai. Momentos que se foram para sempre, mas que ficaram ali em imagens que agora são minha companhia. Porque também estou ali. Sorrindo.
Folheando as páginas, as lágrimas corriam pela face com a forte dor da saudade. Abracei-me ao álbum e chorei até adormecer no sofá.
Acordei com os fogos anunciando os últimos segundos de 2008. Olhei para fora e o brilho das estrelas estavam encobertos com o colorido cintilante por toda a cidade. O espocar alucinado me distraiu e esqueci um pouco minha tristeza, deixei o olhar vagar pela vibração, e o pensamento trazer para o meu lado, meus pais, meus irmãos, meus amigos. Falei alto como se ali estivessem: obrigado por terem vindo.
E por alguns momentos, enquanto os fogos coloriam o céu, fui feliz e esqueci a solidão.

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